Chegamos ao terceiro trimestre de 2025 com movimentos econômicos e políticos internacionais que apontam para o risco de uma economia global mais protecionista, gerando impactos relevantes tanto no bloco europeu quanto nos países emergentes, especialmente em suas atuais e futuras estratégias comerciais, além de demandar reestruturação de alianças políticas e econômicas. Ao final do trimestre, as reações das nações mais afetadas revelaram impactos menores do que os cenários mais pessimistas previam, reflexo de um diálogo contínuo em torno de acordos mais duradouros diante das reiteradas mudanças na imposição tarifária estadunidense. O período evidenciou um cenário econômico internacional complexo, porém diligente na tentativa de mitigar os riscos de um menor crescimento do PIB global. E, se por um lado, a economia mundial reagiu com relativa celeridade, por outro, os conflitos bélicos no Oriente Médio e na Ucrânia se prolongaram apesar dos esforços diplomáticos dos interlocutores e sucessivas tentativas de mediação na construção de acordos de paz. Os progressos seguem lentos e os compromissos são frágeis, reforçando a necessidade de novos refinamentos para que haja real interesse das partes envolvidas.
No terceiro trimestre, a economia americana apoiada por uma política de contenção inflacionária, embora parte dos dados internos ainda esteja pendente de divulgação, apresentou um cenário de incerteza acima do esperado diante da persistente pressão sobre os preços, com retração da demanda doméstica influenciada pelo repasse tarifário das importações, menor criação de novos postos de trabalho que, ainda assim, mantêm salários em patamares elevados e uma leve expansão da produção. Diante deste contexto, o adiamento dos planos de expansão empresarial refletiu no ritmo das contratações e também abriu espaço para maior emprego da tecnologia, especialmente de inteligência artificial. A diminuição da confiança do consumidor no trimestre evidencia a necessidade de estímulos no próximo período para evitar reflexos negativos sobre empresas e investidores. De acordo com banco central americano, o FED (Federal Reserve), a projeção de corte de juros programada busca dissipar rumores sobre a incerteza do crescimento econômico e, possivelmente, buscar um resultado ligeiramente acima do esperado, apoiado no consumo das famílias. O setor imobiliário registrou recuo no trimestre, pressionado pelas altas taxas de financiamento, apresentando perda de fôlego, apesar do estímulo das construtoras em oferecer descontos e redução progressiva dos juros. Tais medidas, no entanto, ainda não se mostraram suficientes para reverter a demanda enfraquecida. Por outro lado, o segmento de alta renda impulsionou o mercado imobiliário de alto padrão de forma regionalizada, com destaque para as cidades costeiras e centros urbanos no interior com imóveis prontos em áreas que estão mais valorizadas, reflexo não apenas da contração do mercado de novas moradias, mas também da escassez de terrenos e da maior rigidez das normas para construções sustentáveis.
Na zona do Euro, o terceiro trimestre surpreendeu com resultado positivo, demonstrando resiliência das economias locais que, no seu conjunto, obtiveram crescimento. Diante das grandes incertezas comerciais que pairavam sobre o bloco neste ano, as projeções se tornaram mais otimistas para o próximo período. Apesar das variações regionais, o BCE (Banco Central Europeu) sinalizou não haver intenção de novos cortes de juros, destacando que as reduções anteriores já começam a impactar positivamente a confiança no consumo das famílias, impulsionada pela diminuição das incertezas tarifárias. No setor habitacional, ainda afetado pela dificuldade de acesso ao crédito imobiliário, houve elevação dos preços dos ativos residenciais. Portugal e Espanha registraram altas expressivas, enquanto Alemanha e França avançaram moderadamente. Em parte, esses resultados positivos foram impulsionados por maior demanda e, de outro, pela escassez de novas moradias, o que intensificou a concorrência por imóveis usados, com demanda polarizada entre as cidades icônicas. Entre os desafios do setor estão tornar as novas construções mais sustentáveis e regulamentar o uso de imóveis de curta estadia, como ocorre em Barcelona, medida que ainda provoca grandes distorções no preço dos aluguéis.
A China registrou crescimento no terceiro trimestre em um contexto mais desafiador, embora abaixo do trimestre anterior, fechou o trimestre acima das previsões. O desempenho foi impulsionado pela produção industrial, sustentada pelas exportações e pelo consumo interno, reflexo parcial dos subsídios concedidos anteriormente. O consumo mostrou-se fraco, mas suficiente para o adiamento do corte de novos cortes na taxa de juros, mantendo-a em nível considerado satisfatório. O país entra agora num período estratégico de formulação de novas diretrizes econômicas, que impactarão seu crescimento nos próximos cinco anos, acompanhando com cautela o consumo interno, ainda em recuperação após a crise imobiliária, que mantém baixos níveis de confiança desde o início do ano. No segmento imobiliário, os preços das novas residências caíram e o investimento retraiu 13,9%, afetando as construtoras e incorporadoras que se encontram em recuperação. A queda na construção civil e o aumento dos estoques levaram o governo a flexibilizar as regras de aquisição, permitindo o financiamento de mais de uma unidade por consumidores submetidos a um rigoroso critério de seleção. Novos modelos deverão corrigir o desequilíbrio causado pelo excesso de imóveis erguidos com base na projeção de um crescimento econômico, mas adquiridos para investimento e não para moradia, causando distorções significativas entre o planejamento urbano sustentável e a especulação imobiliária.
No cenário doméstico, os resultados do período apresentaram desaceleração diante das incertezas tarifárias: as exportações arrefeceram frente às importações e o varejo registrou queda no consumo, apesar dos níveis mais baixos na série histórica para o desemprego. A manutenção da taxa de juros e o desempenho do agronegócio resultaram em estimativas do PIB revisadas para baixo. No último trimestre, porém, espera-se um aumento da produção industrial e retomada do investimento na capacidade instalada, com contínuo fortalecimento do setor da construção civil, sobretudo no segmento logístico. No mercado imobiliário, os recentes estímulos para financiamento de residências de padrão médio, devem elevar a absorção e a produção de novas unidades. Já o mercado de alto padrão, tradicionalmente mais resiliente, registrou expansão em diversas cidades, principalmente nas regiões Sul e Nordeste. Os novos modelos de consumo e de experiência coexistem com produtos tradicionais neste nicho, consolidando uma tendência em que o valor do empreendimento se amplia na percepção do investimento, contribuindo para explicar a resiliência deste segmento no mercado interno, mesmo em contexto de maior restrição econômica.
Denise Ghiu
Chief Data Officer
Bossa Nova Sotheby's International Realty
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Boa leitura!