A instabilidade geopolítica durante 2024, tanto no leste Europeu quanto no Oriente Médio evoluiu no primeiro trimestre de 2025, revelando um cenário ainda mais complexo, não apenas no que diz respeito à segurança na Europa, mas também numa possível reorganização global de interesses. Ao contrário das expectativas de pacificação, não houve avanços concretos em interlocuções pela paz, ao contrário, evidenciou-se um mundo ainda mais polarizado.
Nos EUA, os dados sobre a desaceleração da inflação no primeiro trimestre projetaram um próximo período sem corte dos juros pelo FED (Federal Reserve Bank), mas segundo alguns analistas, a dimensão das tarifas aplicadas sobre as importações pode impactar as empresas e piorar o cenário interno. Com a continuidade de uma política monetária mais protecionista, o fortalecimento da moeda americana tende a desvalorizar outras moedas, tanto num cenário de longo prazo para (novos) conflitos geopolíticos, quanto na amplificação de uma possível guerra comercial. Esse movimento pressiona não apenas os mercados emergentes, mas também o bloco Europeu. No mercado imobiliário em geral, embora as taxas de juros para hipotecas interfiram na decisão de compra, foi o desequilíbrio entre a oferta e a demanda que que manteve o preço dos imóveis inflacionados. Além disso, reformar ou construir também ficou mais caro, pois os custos de materiais estão sujeitos à inflação e dependentes de importações, além da crescente indisponibilidade de mão de obra qualificada no setor. Este cenário direciona maior atenção ao mercado de locação, não apenas pelo fato de atender parte da parcela de jovens que procura sua primeira residência, mas num momento em que os custos de moradia representaram uma fatia maior na renda dos locatários, o que tem atraído o olhar dos investidores. Para o segmento de alto padrão, os preços dos imóveis foram artificialmente elevados por fatores como as novas regras de comissionamento dos agentes imobiliários, que passaram a vigorar desde o início do ano, e o aumento dos preços dos seguros que resultou em valorização desigual em diferentes áreas. Em contrapartida, observou-se aquecimento da atividade construtiva com uma oferta constante em cidades icônicas, mas a repercussão das novas políticas comerciais pode ser o grande desafio na manutenção do ritmo da demanda nos próximos meses.
Na zona do Euro, o prolongamento da guerra no leste europeu levou os países membros da OTAN a intensificarem seus investimentos em defesa, pressionando as agendas econômicas dos governos para aumentar os gastos com defesa militar e acelerar a transição energética. Num esforço para equilibrar esse cenário com uma política monetária firme em direção à meta de inflação, o BCE (Banco Central Europeu) reduziu em 25 pontos-base a taxa de juros, sinalizando uma perspectiva de crédito menos restritiva. No entanto, apesar de um fraco crescimento econômico no primeiro trimestre, algumas economias da zona do euro ainda apresentam fragilidade em suas economias, o que pode comprometer sua recuperação. No segmento imobiliário, o corte da taxa de juros favorece o mercado que passa pelo desafio da demanda fora dos eixos das grandes capitais (Paris-Roma-Madri). Ao mesmo tempo, os custos elevados para novas construções conferem valorização dos imóveis usados, atraindo o interesse dos investidores pelo alto padrão, sobretudo com o despertar do desejo das novas gerações em viver no continente.
Na China, apesar de uma recuperação lenta desde a pandemia, o primeiro trimestre de 2025 surpreendeu os analistas ao ultrapassar a meta de crescimento do PIB, alcançando mais de 5%. A complexidade do cenário econômico atual, que teve como epicentro a crise no mercado imobiliário a partir de 2020, agravou a falta de confiança e contribuiu para um consumo interno fraco, ampliado por uma taxa de desemprego alta entre os jovens que ingressaram ao mercado de trabalho desde então. Com foco para as exportações, o desempenho alcançado superou as expectativas e revelou uma estratégia eficaz, mas que deverá ser reavaliada no próximo período. Isso porque, o aumento das tarifas das exportações impõe novos desafios para uma balança comercial favorável frente às políticas externas antiglobalistas. Para o mercado imobiliário, o setor mostrou alguma reação com a melhora da confiança dos consumidores e, para os primeiros meses do ano, não apresentou números negativos, mas ainda é cedo para falar em estabilização. Os estoques permanecem elevados e a atividade construtiva desacelerou, porém menos em relação ao mesmo período em 2024 e o mercado de usados apresentou desvalorização dos ativos. Novos planos para o segmento imobiliário estão voltados para a melhoria da qualidade das moradias, revitalização de vilarejos e maior flexibilização das restrições na aquisição de imóveis.
No ambiente doméstico, o primeiro trimestre foi marcado pela desaceleração da economia e pelo nível mais baixo de investimentos, associado à percepção de um risco fiscal, num cenário de alta volatilidade do dólar e incertezas na política internacional. Apesar do bom desempenho do setor agrícola, houve aumento no preço dos alimentos causado pela cotação em dólar, a taxa de desemprego cresceu e a renda das famílias encolheu. Neste contexto, alguns analistas estimam que a combinação destes fatores com as novas regras que foram impostas pelo governo americano podem ter um efeito atenuado com a abertura de novas alianças comerciais. No segmento da construção e imobiliário, as diretrizes do Banco Central (BC) que inicialmente endureceram o financiamento para a construção e aquisição de novas moradias, foram ajustadas para facilitar o acesso habitacional pela classe média. Tal medida tende a promover o escoamento do estoque e melhora da confiança dos empresários, aliviando a pressão das incorporadoras. O segmento de alto padrão, no entanto, segue resiliente. Dados de 2025 em comparação ao mesmo período em 2024, revelam um aumento do número de negócios com imóveis usados, especialmente casas e, de modo geral, os preços ficaram mais pressionados com sinais de desaceleração. Já para os lançamentos, a escassez de estoque combinada ao aumento da demanda, indica tendência de preços altos e que deve se intensificar diante do cenário externo.
Denise Ghiu
Chief Data Officer
Bossa Nova Sotheby's International Realty
Esta é uma publicação pioneira sobre o mercado de alto padrão que tem por objetivo oferecer aos nossos clientes e empresas do setor um cenário mais abrangente sobre os principais acontecimentos que podem ajudar a decisão do proprietário, do comprador e dos investidores através da viabilização dos dados e análises sintéticas sobre os negócios concretizados, anúncios, lançamentos e locação nos bairros mais nobres na cidade de São Paulo.
Boa leitura!